A anestesia geral é, para muitos pacientes, um dos principais receio para a realização da cirurgia ortognática. 

“O que pode acontecer se tomar anestesia?”, “Dói muito?”, “E se eu não voltar da anestesia?”, “E se a anestesia acabar durante a cirurgia?” Essas são algumas das questões que ouço diariamente em meus consultórios e, para tranquilizá-los, eu explico certinho passo a passo de como é realizada a anestesia e por qual motivo deve ser feita a anestesia geral para a cirurgia ortognática.

Para auxiliar todos aqueles que precisam passar por um procedimento cirúrgico e têm medo da anestesia, eu convidei minha parceira de trabalho, Fernanda Leite, que é médica anestesiologista formada (graduação, residência e doutorado) pela Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), com atuação no HRAC e no Hospital Estadual de Bauru, e pela Unimed para tirar as principais dúvidas.

Apaixonada pela profissão, Fernanda me contou por que escolheu a anestesiologia como carreira: “Escolhi a anestesiologia por ter a oportunidade de participar de um dos momentos mais importantes da vida dos pacientes, sendo responsável por “tirar-lhes” o que mais temem naquele momento: a dor! Acho extremamente gratificante!”, contou.

Como é feita a anestesia geral?

A anestesia geral é feita através da administração, pelo médico anestesiologista. São utilizados medicamentos que são responsáveis por fazer o paciente não sentir dor, ficar inconsciente e relaxado para poder realizar o procedimento cirúrgico a que for submetido.”

Existem vários tipos de anestesia geral?

“Existem diferentes técnicas, como a anestesia geral inalatória ou a anestesia geral endovenosa, por exemplo. Quem escolhe o melhor tipo de técnica a ser utilizada para determinado procedimento é o médico anestesiologista, que leva em consideração vários fatores como: tipo de cirurgia, idade do paciente, doenças associadas, entre outros.”

Existem riscos com esse procedimento?

“Com a modernização das técnicas, dos instrumentos utilizados para anestesia e dos medicamentos, hoje os riscos que sempre foram associados popularmente à anestesia geral são muito pequenos, principalmente se lembrarmos que o médico anestesiologista é aquele médico que, além de realizar a anestesia, permanece ao lado do paciente durante todo o tempo da cirurgia e o tempo em que ele fica na sala de recuperação pós-anestésica. O paciente fica monitorado durante todo o tempo e é por meio do monitor que o anestesista percebe possíveis complicações e as trata imediatamente! Por isso os riscos diminuíram muito atualmente.”

A anestesia é um procedimento seguro?

Sim! A anestesia é um procedimento bem seguro, se realizada dentro de todas estas condições! 

Todo mundo pode receber anestesia geral? 

“A princípio, todas as pessoas que precisam ser submetidas a determinado procedimento cirúrgico – desde recém-nascidos até bem idosos – podem receber anestesia geral. As indicações e contraindicações e também os cuidados especiais são analisadas caso a caso, no momento em que ocorre a consulta pré-anestésica com o médico anestesiologista, geralmente antes ou logo após a internação do paciente no hospital ou clínica em que a cirurgia ocorrerá.”

Quanto tempo dura o efeito de uma anestesia?

“Costumo dizer que a anestesia dura o tempo da cirurgia. Atualmente, temos como manter o paciente anestesiado tanto tempo quanto seja preciso para realizar a cirurgia. Ao término do procedimento, feitos os curativos necessários, interrompemos a administração dos anestésicos e, então, em alguns minutos, o paciente acorda.”

Pode acontecer de a cirurgia durar mais tempo do que o efeito, o que fazer?

Um dos maiores medos relatados pelos pacientes durante a consulta pré-anestésica é o de acordar enquanto acontece a cirurgia, mas como conseguimos manter o paciente anestesiado o tempo que for necessário para o término do procedimento cirúrgico, esta possibilidade é praticamente inexistente.”

Na anestesia geral tem que entubar o paciente?

“Sim, durante a anestesia geral o paciente perde o controle de todos os movimentos e reflexos, inclusive a capacidade de respirar sozinho. Por isso é necessário intubar e, durante a cirurgia, é o “respirador” do aparelho de anestesia que realiza as respirações pelo paciente. Ao fim da anestesia, o paciente recupera rapidamente estas funções, e o tubo é então retirado. Tudo isso acontece, geralmente, sem que o paciente tenha consciência ou lembrança destes momentos.”

A anestesia dói?

“Não! Os medicamentos da anestesia geral são endovenosos (administrados através do soro que o paciente recebe) ou inalatórios (feitos através de uma máscara semelhante à de inalação). Em momento algum o paciente sente dor para ser anestesiado.”

É preciso fazer consulta de rotina com o médico antes da cirurgia?

“Indicada a cirurgia, o paciente é encaminhado por quem a fará para que passe por uma avaliação pré-anestésica, que nada mais é que uma consulta com o médico anestesiologista. Esta consulta é o momento em que o anestesiologista avalia o paciente e suas condições e também é um ótimo momento que o paciente tem de tirar todas as suas dúvidas e diminuir a ansiedade em relação à anestesia. Lembrando que o anestesista que realiza a consulta daquele paciente não é necessariamente o mesmo que irá anestesiá-lo no dia marcado para a cirurgia.”

O paciente precisa fazer algum tipo de exame antes para determinar se pode ou não receber a anestesia?

“Atualmente não existem exames que determinam se o paciente pode ou não receber anestesia. O que são feitos são exames pré-operatórios (sangue, urina, radiografias, eletrocardiogramas, entre outros) que ajudam a conhecermos melhor as condições de saúde daquele paciente e o que pode ou precisa ser melhorado antes da cirurgia para que o risco de complicações diminua!”

A anestesia pode levar à morte em alguma situação?

“Em alguns casos específicos, como, por exemplo, aqueles em que pacientes em estado muito grave precisam ser operados para que o cirurgião resolva o a causa da gravidade naquele momento, a indução da anestesia pode colaborar para uma instabilização maior do quadro. Mas são situações pouco frequentes e que, na sua totalidade, tentam ser prontamente revertidas pelo anestesiologista responsável no momento. No caso das cirurgias ortognáticas, com a realização de todas as consultas e cuidados necessários, esse risco é diminuído para quase zero.”

Existem fatores que aumentam o risco de algum problema sério durante a cirurgia por conta da anestesia?

“Existem, e eles precisam ser explicitados pelo paciente durante a avaliação pré-anestésica para que eles diminuam. Todas as orientações e solicitações de exames pelo anestesiologista devem ser seguidas e realizadas, e também todas as questões respondidas francamente (inclusive sobre uso de drogas ilícitas! Lembrando sempre da existência do sigilo médico)! A realização de todos os exames solicitados também é primordial para segurança do paciente! Pacientes com parentesco próximo de pessoas que tiveram problemas com a anestesia também devem relatá-lo!”

A pessoa que recebe a anestesia fica como se estivesse em coma?

“De certa forma, sim! Mas a situação da anestesia é realizada de modo mais controlado e previsível pelo anestesiologista. Quando o paciente está em coma, por exemplo, é muito difícil prever quando e como ele irá acordar, diferindo completamente da anestesia.”

A anestesia deixa efeitos colaterais?

“Alguns pacientes possuem maior propensão a apresentarem mais efeitos colaterais que outros. Os mais comuns na prática diária são náuseas e vômitos, sonolência e tontura. Eles aparecem imediatamente após o final da anestesia e não costumam durar muito tempo, pois, quando eles ocorrem, administramos medicamentos que diminuem ou extinguem completamente estes sintomas.”

É preciso tomar algum remédio antes da anestesia para potencializar seu efeito?

“O anestesiologista avaliará na consulta pré-anestésica a necessidade da administração de uma medicação antes do início da anestesia. Mas se trata de uma medicação que denominamos ansiolítica – para amenizar a ansiedade e seus sintomas – e não como “potencializador” da anestesia: uma pessoa que não tomar esta medicação antes do procedimento não terá uma anestesia mais “fraca” do que aquele que tomar, por exemplo.”